“Deixe-me ser má!” – disse Roberto. – “Mas sabe que…” – parou. Desligou o telefone sem dizer mais nada. Daí a segundos o telefone tocava de novo. Ignorou. “Deixe-me ser má!” ressoava-lhe no pensamento como um apito. Nunca lhe acontecera enganar-se no género, referindo-se a si; e embora fosse algo tão natural de acontecer com qualquer pessoa, a ele tinha-lhe gerado um bloqueio. O telefone voltou a tocar. Tocava incessantemente, mas não como aquelas palavras lhe ecoavam no pensamento… “Roberta.” – pensou – “Roberto, Roberta.” Não soava assim tão mal. Levantou-se e foi olhar-se ao espelho. Imaginou-se de cabelos longos e pestanas compridas. Do nariz para cima a sua aparência não era nada má! Mas a barba é que não ficava ali nada bem! “Se calhar…não! Não, não, não, não!!” – pensou abanando a cabeça como que a sacudir as palavras que lhe passavam na mente. O telefone tocou, e ele voltou a ouvir. Alcançou-o e atendeu. Do outro lado ouviu-se: “Então? Que aconteceu? Não me atendia? Fiquei preocupada!” – Roberto riu-se. – “Não se preocupe. Foram só confusões.”
(iniciado a 14 de Janeiro de 2016)